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EMOÇÕES E AS DIVERSAS CULTURAS

01/11/2013 11:18

                        É até comum a gente ouvir, ou ler em algum trabalho onde o autor quer mostrar conhecimento, que tal ou qual cultura, ou povo, não tem uma emoção determinada que nós temos, ou que ele tem uma que nós não temos. Assim, é dito que os esquimós, que não possuem um termo para designar raiva, por isso mesmo não sentem esta emoção. Não devem sentir ciúme, também, porque dizem que oferecem a própria mulher ao forasteiro que vá abrigar-se em um iglu deles. Os taitianos, vivendo naquele paraíso de águas verde-esmeralda, supostamente desconhecem  culpa, tristeza, anseios ou solidão. Eles descrevem a tristeza como fadiga, doença ou sofrimento físico. Nas culturas latinas reina o machismo que desencadeia toda uma série de emoções e atitudes derivadas. Já os japoneses são governados pelo temor de desonrar a família. – As mães chegam a cometer o suicídio quando os filhos não passam no equivalente ao vestibular. Será alguma revelação profunda sobre a psique teutônica o fato de a língua alemã possuir o termo schadenfreude – a satisfação com a desgraça alheia, que os alemães completam com: é a maior das alegrias?

 

                        As culturas seguramente diferem como seus membros expressam, falam ou agem, tendo como por base suas emoções. Mas isto não revela em nada como estas pessoas as sentem. As evidências apontam para que as emoções de todos os membros normais da nossa espécie são tocadas no mesmo teclado e são experenciadas de maneira idêntica. Os sinais das emoções mais accessíveis para nós são as expressões faciais francas e espontâneas. Nós, automaticamente, podemos lê-las nos outros em nossos contatos sociais e respondemos, também, interativamente, com nossas próprias expressões faciais.

 

                        Ao escrever a sua obra: “A expressão das emoções nos homens e nos animais”, Darwin passou um questionário a pessoas que interagiam com populações aborígines de cinco continentes, mirando populações que tivessem pouco contato com europeus. Darwin pediu para que descrevessem, pormenorizadamente, com base na observação e não na memória, como os nativos  expressavam o seguinte:       vergonha;

 

indignação; concentração; tristeza; bom-humor; desprezo; obstinação; medo; repulsa; resignação; culpa; ciúme e, finalmente, sim e não. A descrição, exigia Darwin,

devia ser  feita em detalhes: como ficavam os cantos da boca, as sobrancelhas, os cantos dos olhos, etc.

 

                        Resumo feito pelo próprio Darwin ao compilar as respostas: - “O mesmo estado de espírito se expressa no mundo inteiro com notável uniformidade. Este fato, em si mesmo, é interessante como prova da estreita semelhança da estrutura física e da disposição mental de todas as raças da humanidade”. Aliás, foi também ter encontrado nos mamíferos superiores as mesmas expressões que levou Darwin a escrever – “ The descent of Man”. As pesquisas contemporâneas, todas, confirmam as conclusões de Darwin.

 

                        Quando o psicólogo Paul Ekman começou a estudar as emoções na década de 60, julgava-se que as expressões faciais eram sinais arbitrários e que os bebês as aprendiam no momento em que suas caretas feitas ao acaso eram recompensadas ou punidas pelos pais ou responsáveis. Acreditava-se, até, que se as expressões pareciam ser universais seria porque os modelos ocidentais haviam se tornado universais. Nenhuma cultura conseguia resistir a Hollywood e a seus John Waynes e suas Esther Williams.

 

                        Ekman reuniu fotografias expressando as seis emoções básicas (felicidade, tristeza, medo, raiva, surpresa, repugnância) e mostrou-as a pessoas de inúmeras culturas, inclusive a povos isolados como os Fores (nômades da Nova Guiné) e pediu que lhes dissessem os nomes daquelas emoções ou inventassem uma estória sobre o que acontecera ao sujeito para mostrar-se daquele modo na foto. Todos acertavam todas as respostas, inclusive os Fores. Fotografou, também, este povo, expressando, a pedido, as seis emoções básicas. As expressões são inconfundíveis e totalmente semelhantes a dos povos civilizados. Quando estas descobertas foram apresentadas, indignaram os meios intelectuais. Num congresso de Antropologia nos anos 60, a palavra de Ekman foi cortada por um ilustre antropólogo que se levantara gritando, pedindo para que cassassem suas palavras porque as afirmações de Ekman eram facistas. Em seguida, um negro americano taxou-o de racista por ele dizer que a expressão dos negros americanos não diferia dos brancos. Ekman, que achava que seu trabalho continha uma moral contrária, isto é, a de que somos todos irmãos, não entendeu nada.

 

                        Mas as conclusões de Ekman, confirmando as de Darwin, foram replicadas por muitos outros trabalhos e hoje são amplamente aceitas no mundo científico, embora haja controvérsia sobre quais expressões se devam inserir nesta lista universal. Uma outra observação que mostra o gênio de Charles Darwin,e que foi

confirmada, é que as crianças surdas ou cegas de nascença também exibem praticamente em suas faces, a mesma gama de emoções das crianças normais.

PSICOLOGIA E FILOSOFIA

01/11/2013 11:14

                        Com o passar dos séculos, muitos dos mistérios da criação sofreram um up grade e passaram de mistérios a problemas. Não é necessário desfilar, aqui, as formidáveis descobertas já feitas sobre as coisas da natureza. Nenhum aspecto da mente humana foi fácil de investigar. Até bem pouco tempo, se ocuparam dela a Filosofia, a Teologia e a Religião. A Psicologia, como um saber autônomo, é uma ciência recente. Até o fim do Século XIX, a Psicologia podia ser considerada como parte da Filosofia. Só a partir daí pode ser tida como uma ciência independente, mesmo que sem um objeto de estudo muito preciso e não inteiramente seguindo os cânones da Ciência.

 

                        O estudo da mente sempre apresentou um aspecto dualista, ou até ambivalente, tanto que se usa de um modo quase indistinto, refletindo a dualidade corpo-alma, alma ou mente. É possível que se faça uma distinção usando a palavra mente quando se pensa nos aspectos mais carnais do Homem e alma ou espírito quando se pretende referir só ao lado da subjetividade.

 

                        As relações entre a Psicologia e a Filosofia são particularmente notórias. Aliás, a Psicologia, em sua evolução, acabou se apropriando de um tema central da Metafísica tradicional – o da natureza da mente e de suas relações com o corpo. Atualmente, e como atualmente estamos nos referindo ao fim do Século XX e início do Século XXI, e com as maravilhas da tecnologia já dentro dos laboratórios (ressonância magnética, tomografia por emissão de pósitrons, computação de alta velocidade, etc.), já é possível seguir os passos dos pensamentos, das emoções e dos sentimentos, dentro de um cérebro vivo e funcionante. Fundou-se, então, uma nova ciência – a Psicobiologia, que vem se desdobrando em uma série de saberes como a Neurobiologia, a Biologia Molecular que pretendem conhecer a mente a partir do funcionamento da carne, mais especificamente do cérebro.

 

                     Cada Filosofia inspira uma Psicologia. A Filosofia Idealista inspira a Psicologia Mentalista, cujo método é a introspecção; a Filosofia Positivista inspirou a Psicologia Comportamental ou Behaviorista. A Filosofia Materialista, é claro, é a que inspira a Psicobiologia. Para a Psicobiologia, a mente não é uma substância separada e independente como pregou Descartes, mas um conjunto de eventos ou processos que se passam no corpo, mormente no cérebro.

 

                        Apesar de podermos utilizar a introspecção nas pesquisas sobre a mente, o que não se pode fazer nas outras ciências, nenhum aspecto da mente é fácil de estudar. A consciência, porém, é considerada o problema supremo. E, se elucidar a mente é a última fronteira das ciências da vida, a consciência se afigura como o mistério final. Apesar de tantas mentes brilhantes estarem se dedicando ao assunto  nos mais bem montados laboratórios, não se tem idéia de como se forma a mente consciente, a mente conhecedora. O Eu que sente e tem sensações e sentimentos. A nossa subjetividade não pôde ser entendida ainda. Melhor seria dizer que não se tem a mais vaga idéia de como ela pode se constituir a partir da carne, isto é, do tecido cerebral e dos neurônios. A estranheza da consciência humana é tão grande que o físico e matemático Roger Penrose, no seu livro “The Emperors new mind” argumenta, usando toda a sua bagagem de lógica e matemática, que a consciência não pode ser explicada pelos neurônios (que são grandes demais), nem pela teoria computacional da mente, nem pela Teoria da Evolução de Darwin, nem mesma pela Física contemporânea. Precisaríamos desenvolver a Física da Gravidade Quântica para entender os fenômenos quânticos que atuariam nos micro-túbulos que formam o esqueleto dos neurônios. Esses efeitos quânticos são tão estranhos que podem ser equiparados à estranheza da consciência. Isto não significa que, sobre muitos outros aspectos do funcionamento da mente, os nossos conhecimentos deixem de ser formidáveis e nos deixem perplexos e admirados.

 

                        Vamos tomar, agora, o primeiro item, dos nossos temas propostos mais específicos sobre os aspectos agressivos do Homem: a violência e o crime. Atirar à esmo, sobre uma multidão de inocentes, é a quinta essência da irracionalidade. Mas, já estamos acostumados a estas notícias e a mídia nem dá grande repercussão a elas. Nos Estados Unidos, a terras dos doidos por armas, onde os crimes por ataques furiosos são até comuns (só de ataques de fúria feitos por funcionários desgostosos dos Correios americanos foram computados doze em doze anos, tanto que virar postal tornou-se uma gíria americana para perder a cabeça). Entrar num estado deste, porém, não é exclusividade de americanos, de cidadãos ocidentais e nem mesmo de sociedades desenvolvidas ou modernas. Chama-se, também, a este estado de fúria homicida, de estado de amok. Amok é uma palavra malaia que designa as orgias homicidas ocasionalmente empreendidas por homens solitários que sofreram uma perda de amor, de dinheiro, ou da honra. Um homem em estado de amok para o que está à sua volta e é inacessível a apelos e ameaças. Mas o ataque é precedido por longas ruminações e minuciosamente planejado. Não é desencadeado por um tumor nem por um estímulo imediato, nem um desequilíbrio catastrófico de neurotransmissores. É desencadeado por idéias e, portanto, tem a sua fria lógica própria.

A ÂNSIA INSTINTIVA DE CONHECER

01/11/2013 11:04

                        Podemos distinguir, nos seres humanos, uma ânsia instintiva de conhecer: o saber pelo prazer de saber. Mas, foi esta pulsão que no nosso início como espécie, lá na árida savana africana, nos possibilitou a sobrevivência. Desarmados, naturalmente que somos, vivendo num mundo hostil povoado de predadores ferozes e bem adaptados com o ambiente, foi a nossa ânsia de conhecer que nos deu a maestria sobre a natureza e fez que a puséssemos a trabalhar a nosso favor. Interpusemos as técnicas incipientes, como a do machado de pedra, as lâminas de sílex, à força bruta, a dentes enormes e afiados. Vencemos, crescemos e nos multiplicamos, graças ao intelecto. Hoje, somos os senhores incontestes do mundo e temos como vassalos todas as outras criaturas.

 

                        No início do Século XX, pretensiosos, achamos que em breve todos os segredos da natureza nos seriam revelados e que a ciência chegaria até as últimas conseqüências. Hoje, a nossa crença é bem o contrário. Como veremos em outras aulas, muitos  já acham que apesar da extraordinária inteligência do Homem, que desafia até a teoria da evolução de Darwin, já que as capacidades cognitivas superiores do Homem estão sobrando, e de muito, para serem justificadas pelas pressões evolucionárias da competição pela sobrevivência. Nós estaríamos aqui mesmo sem os pendores para a Arte, para a Matemática ou para a Filosofia e, no entanto, já temos até teorias sobre como elaborar teorias (Epistemologia).

 

                        Nós já nascemos curiosos. O bebê, logo que adquire o mínimo controle muscular, já está levando tudo à boca, tentando através dela conhecer alguma coisa sobre o mundo que o cerca. Ao largar as fraldas, e balbuciar suas primeiras palavras, depois de mamã e papá, lá vem o indefectível: por que? Aos dois anos isto atinge o máximo – é a fase dos porquês. Tudo é por que? Se você der um brinquedo a uma criança logo depois de apreciar as proezas do próprio, ela vai partí-lo para ver o que tem dentro e como ele pode fazer tudo o que faz. Não é  agressividade,  é   curiosidade.

 

Fruto do instinto investigatório inato. Todo ser humano nasce com esta carga dentro de si, uns mais outros menos. Ela perpassa a infância e atinge o paroxismo pelo novo na puberdade e na adolescência. Caminha com o indivíduo pela maturidade. Os grandes feitos científicos são elaborados exatamente no início da maturidade, provavelmente fruto da ânsia pelo novo da juventude. Com o passar do tempo ficamos menos arrogantes em nossas proposições. Ao invés do irrespondível por que? que cria uma seqüência infinita, vamos nos contentando com o mais modesto: como? 

 

                        Einstein, depois de se formar em Engenharia, arranjou um emprego público no Departamento de Patentes de Berna, na Suíça. Avesso ao regime rígido das universidades, queria pensar sobre os mistérios da natureza. Em 1905, aos 25 anos, só com seus papéis e lápis, formulou a Teoria da Relatividade Restrita que virou a concepção do universo de cabeça para baixo. E, de quebra, no mesmo ano, publicou um artigo que explicou o efeito fotoelétrico. Foi o trabalho sobre o efeito fotoelétrico que lhe valeu o Premio Nobel (de 1921) e não a Teoria da Relatividade que até este ano não tinha sido, ainda, devidamente comprovada. O interessante é que era uma religiosidade que inspirava em Einstein sua criatividade científica. Ele era impulsionado por um misticismo racional. Vejamos suas palavras:

 

                        _ “A mais profunda emoção que podemos experimentar é inspirada pelo senso do mistério. Esta é a emoção fundamental que inspira a verdadeira arte e a verdadeira ciência. Quem despreza este fato e não é mais capaz de se questionar ou de se maravilhar, está mais morto do que vivo. Foi o senso do mistério, mesmo se misturando com o medo, que gerou a religião. A existência de algo que não podemos penetrar, a percepção da mais profunda razão e da beleza mais radiante no mundo à nossa volta, que apenas em suas formas mais primitivas são acessíveis às nossas mentes – é esse conhecimento e emoção que constituem a verdadeira religiosidade. Neste sentido, e neste sentido apenas, eu sou um homem profundamente religioso.”

 

                        Einstein chamou esta inspiração religiosa da criatividade científica de “sentimento cósmico-religioso”. Muitos cientistas e filósofos foram tomados por uma extasiante perplexidade perante a harmonia do Universo e das leis naturais e crêem numa racionalidade do Universo. Para muitos pensadores não se pode compreender a natureza (e muito menos a mente humana) como desenvolvidas ao acaso. Para eles, atrás destas maravilhas existe um plano racional.

 

                        E, mistérios para nos emocionar intelectualmente é o que não nos falta ao redor. Mas não precisamos procurar fenômenos a anos-luz de distância. E o mais intrigante mais perto de nós não poderia estar porque se passa no nosso interior, dentro de cada um de nós. É o mistério da mente conhecedora, do qual não se tem, nem de longe, qualquer explicação. O Eu senciente, isto é, que sente, que tem sensações e sentimentos, é o maior mistério da natureza.

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