A CRENÇA NOS ESPÍRITOS
A mente, ou a alma humana, é de tal complexidade que pode ser vista, ou analisada, de um cem número de ângulos. Nós, os seres humanos, apesar de nos esforçarmos ao máximo, estamos, definitivamente, enclausurados, subjetivamente, em nossas mentes. As únicas coisas do mundo que podemos experimentar diretamente são os conteúdos da nossa própria consciência. Depois de milhões de anos de evolução, nós conseguimos nos aperceber conscientemente do mundo, através da nossa consciência. Tudo o que vimos, ouvimos ou sentimos na pele, ou na boca, é uma transformação do mundo real feita pelos órgãos dos sentidos e que depois se tornam os produtos da mente. É o que chamamos a psiquificação das informações. Isto é, a sua transformação em fatos psíquicos. Processo que é feito de uma maneira que ignoramos totalmente. E que pode ser feito por leis físicas as quais desconhecemos inteiramente. Não conhecemos a estrutura íntima da alma e para muitos ela não é um ente natural. Ela é supranatural e não segue as leis das outras substâncias. Sendo autônoma e imortal.
Se lançarmos um olhar para o passado da humanidade encontraremos, em todas as culturas e em todos os povos, uma crença universal na existência de seres imateriais, aeriformes ou etéreos, que habitam em volta dos homens e exercem sobre eles uma influência invisível mas poderosa. Em geral, esta crença é acompanhada da idéia que estes entes são espíritos ou então almas de pessoas mortas. É uma crença ubíqua e se encontra tanto nos povos altamente civilizados, como também nos aborígines australianos, ou nos índios amazônicos que vivem ainda na Idade da Pedra. Cá, no nosso ocidente civilizado, entre seus povos cultos e sofisticados, a crença nos espíritos tem sido combatida duramente há dois séculos pelo racionalismo e iluminismo científico e reprimida nos países de orientação marxista.
Quais são os fundamentos psicológicos da crença nos espíritos? Vejamos o que pensa o psicanalista Jung sobre isto. Ele observa que mesmo na idade do materialismo (uma inevitável conseqüência do racionalismo e do iluminismo), há um ressurgimento da crença nos espíritos em nível de um interesse científico. E cita os trabalhos de Crookes, Myers, Wallace e Zoellner. Para Jung, estes homens caracterizam uma reação do espírito humano contra a visão materialista do mundo.
É fora de dúvida que o Homem civilizado se ocupa muitíssimo menos com a hipótese dos espíritos do que o homem primitivo ou selvagem. Mas Jung se diz convencido de que o europeu que tenha realizado as mesmas práticas utilizadas por um curandeiro para tornar visíveis os espíritos, teria também a mesma experiência íntima. Só que ele a interpretaria de maneira diferente negando-lhe qualquer validade supra-real. Mas isto não alteraria o fato em si mesmo. É sabido, por relatos, que mesmo um europeu sofisticado tem, também, experiências psíquicas estranhíssimas quando forçados a viver em condições primitivas ou quando se encontra em situações psíquicas de tensão fora do comum.
Um dos principais fundamentos psicológicos da crença do primitivo nos espíritos é o sonho. Nos sonhos aparecem pessoas realizando proezas muito superiores as que as pessoas reais, sucumbidas às leis da física, podem realizar. A consciência primitiva acredita, facilmente, tratar-se de espíritos. Dada a importância que o selvagem atribui aos seus sonhos, se tem a impressão que ele é incapaz de distinguí-los da realidade. Os sonhos têm menos valor ao olhar do civilizado. Mas há entre nós muitos que atribuem grande importância inspiradora a determinados sonhos. É um fato que, muitas vezes no sonho, aparecem figuras de pessoas falecidas. Os mais sensitivos às vezes acreditam que são as almas de pessoas mortas que voltam a se manifestar em suas vidas.
Uma outra coisa que fundamenta a crença nos espíritos são os distúrbios nervosos, principalmente os misteriosos distúrbios histéricos. Como os distúrbios ditos nervosos se originam por conflitos psicológicos de natureza não consciente, isto é, inconsciente, para o neurótico, muitos deles acreditam que tais distúrbios são causados por espíritos de pessoas falecidas, ou forças estranhas de pessoas importantes para eles. Se a pessoa é já falecida, a reação conseqüente é pensar que se trata de seu espírito, que já exercia uma influência nociva quando em vida. Como os conflitos patogênicos remontam quase sempre à infância, estão assim ligados à recordação em torno das figuras parentais ou da família próxima. E assim, é natural que não só o primitivo, mas também o civilizado atribua particular importância aos espíritos dos parentes já falecidos. Estas relações são responsáveis pelo culto aos antepassados e parentes, largamente difundidos. O culto aos mortos, principalmente aos poderosos e cruéis e, antes de tudo, uma proteção contra a sua má vontade. Os terapeutas sabemos, por experiência, que um grande número de pacientes se sentem controlados, criticados e até prejudicados ou ajudados pelos pais mesmo que eles já tenham morrido há muito tempo.