ALGUMAS CONTESTAÇÕES À MECÂNICA QUÂNTICA
Migramos do paradigma Newtoniano-Cartesiano, que já durava trezentos anos, com uma descrição determinista da natureza com certezas e previsões absolutas, para um universo de probabilidades e incertezas do mundo quântico. No paradigma quântico, o todo não é mais a soma de suas partes, o cientista não fala mais em ponto material ou trajetória de uma partícula, mas de probabilidade de onda e de muitas trajetórias, aliás todas possíveis, para o movimento de uma partícula. A concepção da matéria (da realidade material do mundo) na Física Quântica, é fundamentalmente diferente de tudo o que a nossa mente está acostumada. A matéria, é o que há e constitui todas as coisas. É um campo e este campo é não separável, indivisível. Deste campo, constituinte de tudo que há, de todo o espaço e de todo o tempo, tanto a matéria quanto a energia são apenas aspectos ou atributos que podemos observar. Não é possível isolar um ente quântico (isto é, partículas e sub-partículas), ele está sempre em interação ou continuidade com outros entes. Daí, que também não há o nada. Mesmo no vácuo (ou, como dizem os físicos quânticos, estado fundamental) as ondas da energia-matéria não serão exatamente zero. Devemos ter sempre certa quantidade mínima das chamadas flutuações do ponto zero. No vácuo quântico, partículas podem surgir do nada e se anularem com suas antipartículas. Assim, o vazio é continuamente agitado por uma espuma de partículas que aparecem e desaparecem sem parar. Vindas do nada e voltando para ele. A existência das flutuações do estado fundamental tem sido confirmada experimentalmente pelo efeito Casimir, uma pequena força que aparece entre duas placas de metal paralelas.
A Teoria Quântica teve um grande sucesso teórico e prático. Desde aí, os cientistas se viram obrigados a lidar com estes novos conceitos e com a esdrúxula e bizarra descrição quântica do mundo atômico e subatômico. Mas, será a Mecânica Quântica uma descrição da realidade física da natureza (principalmente atômica e subatômica), ou é apenas uma teoria bem sucedida em seus resultados, mas temporária à espera de uma outra mais profunda e mais determinista? Há muita controvérsia. Quase toda nova geração de cientistas vinda depois de Bohr aceitou a Filosofia Quântica – incertezas, dualidades e complementaridades. E mais, que elas não são frutos de nossa ignorância. Elas representam, fielmente, como a natureza é. As coisas na sua essência seriam, então, incertas e duais.
Talvez o mais sério oponente à Teoria Quântica tenha sido Albert Einstein. Para Einstein, a descrição probabilística dos fenômenos naturais não poderia ser a palavra final. Lá fora existiria uma realidade objetiva, independente do observador. Ele jamais aceitou a conexão intrínseca entre observador e fenômeno observado, típica da Teoria Quântica. Embora nunca escondesse sua admiração pelo sucesso da teoria na descrição dos fenômenos atômicos e no avanço tecnológico, em dezembro de 1926 escreveu, para o físico Born uma carta que contém, talvez, a sua mais famosa frase:
“- A Mecânica Quântica demanda séria atenção. No entanto, uma voz interior me diz que este não é o verdadeiro Jacó. A teoria é, sem dúvida, muito bem sucedida, mas ela não nos aproxima dos segredos do Velho Sábio. De qualquer forma, estou convencido de que Ele não joga dados.”
O filósofo e epistemologista Mario Bunge, autor do trabalho “A ghost-free axiomatization of quantum mechanics” (Uma axiomatização de Mecânica Quântica livre de fantasmas) diz que a afirmação da Interpretação de Copenhague que o que existe é uma unidade selada composta pelo observador, os meios de observação e o objeto de observação, só pode ter sido concluída a partir de meios misteriosos e não explicados. Mas também afirma que: “- ao contrário do que dizem os defensores da Escola de Copenhague, a Mecânica Quântica não se refere a observadores. Se assim fosse, incluiria fórmulas que dão conta do comportamento dos observadores; permitiria descrever como projetam, mandam construir e manipulam os aparelhos e, quem sabe também, como conseguem os fundos necessários... mas nada disso acontece.”
Einstein tentou encontrar falhas conceituais na formulação da Mecânica Quântica, desafiando Bohr e seus companheiros a explicar vários experimentos mentais que testavam, profundamente, a lógica por trás da teoria. Em todas as vezes, apesar de fazê-los passar por horas de pânico, os signatários da Interpretação de Copenhague sempre se provaram corretos. O debate entre Bohr e Einstein só foi interrompido pela morte de Einstein em 1955 e, ao que tudo indica, nenhum conseguiu sequer abalar os conceitos do outro.
Há dois homens que se aproximam da maneira quântica de pensar sem nunca poderem ser descritos como quânticos: o judeu português Baruch Espinoza, que imigrou para a Holanda trezentos anos antes da Teoria Quântica ser formulada e o psicanalista Carl Gustav Jung. A filosofia de Espinoza sai de nossa alçada, mas os pensamentos de Jung nos fazem remeter ao centro do nosso estudo: A Psicologia.