ANIMUS

10/01/2014 10:53

                        A personificação masculina no inconsciente da mulher – o Animus - também, como foi o caso da Anima, apresenta aspectos positivos e negativos. Mas o Animus não costuma se manifestar sob a forma de inclinações eróticas. Aparece como uma convicção secreta ou sagrada. Mesmo em uma mulher que, exteriormente, se revele muito feminina, o Animus pode, também, ter uma força igualmente firme e inexorável. De repente, podemos nos deparar como algo de obstinado, frio e totalmente inacessível em uma mulher.

 

                        Assim como o caráter da Anima masculina é moldado pelo relacionamento com a mãe, o Animus  é, basicamente, influenciado pelo pai da mulher. É o pai que dá o Animus da filha. São convicções incontestáveis e verdadeiras no sentido do sagrado, indiscutíveis e que geralmente destoam da pessoa real que é aquela mulher. O Animus negativo personifica todas as reflexões semiconscientes, frias e destrutivas que invadem uma mulher, especialmente quando ela deixou de realizar alguma tarefa que encara como obrigatória. É aí que ela se põe a pensar nos modos possíveis da herança da família e outros problemas semelhantes. Tecendo uma espécie de rede de pensamentos calculistas de malícia e de intriga. – “Quando um de nós morrer, vou mudar-me para Riviera”, disse uma mulher ao marido quando passeavam pela costa mediterrânea. O pensamento se tornou relativamente engraçado mas só porque ela o exprimiu conscientemente. Acalentando secretamente, até de si mesma, muitas destas idéias podem contribuir negativamente para a família. Pode até impedir, ou desunir, por exemplo, o casamento dos filhos. Uma atitude patológica, profundamente oculta e que raramente vem à superfície da consciência materna.

 

                        Tal como a Anima o Animus não consiste apenas em qualidades negativas como a maldade, a indiferença, tendência à conversa destrutiva e à idéias obstinadas e malévolas. Também apresenta um lado muito positivo e valioso. Grande número de mitos e de contos de fadas, conta a história de um príncipe transformado por feitiçaria em animal ou monstro, que é redimido pelo amor de uma jovem mulher.

 

                    Processo que, para os junguianos, significa a integração do Animus na consciência. Temos este tema em “A Bela e a Fera” e na fabulosa história “Eros e Psique” que foi analisada detalhadamente em um ano anterior do nosso curso. Sempre a heroína não tem permissão para fazer qualquer pergunta a respeito do seu misterioso e desconhecido marido e amante. Ou, então, só o encontra no escuro e nunca pode ver-lhe o rosto. Está implícito que o amando e confiando nele cegamente, ela poderá libertá-lo. Mas isto nunca acontece no mito ou nos contos de fada. Ela sempre quebra a promessa feita de não olhá-lo e de nada procurar saber sobre ele. Só vai encontrar, novamente, o seu amado, depois de longa e penosa busca, superando muitos perigos e depois de sofrimento. A semelhança deste tipo de situação mitológica com a vida da gente está em que a resolução dos problemas relacionados ao Animus, que é torná-lo congruente com os outros aspectos da personalidade e do mundo consciente, exige muito esforço, superações e bastante sofrimento para a mulher.

 

                        Mas, se ela se der conta deste Animus e da influência que ele exerce sobre a sua pessoa e, também, se confrontar com esta realidade em lugar de se deixar possuir por ela, o Animus pode tornar-se um companheiro interior precioso que vai contemplá-la com uma série de qualidades masculinas muito valiosas para sua navegação através da existência, como: a iniciativa, a coragem, a confiança em si, a objetividade e o espírito de inovação.

 

                        Para os junguianos, as relações conjugais ficam muito afetadas e complicadas quando um dos cônjuges, o que é muito comum, discute quando há interesses contrariados. Se um deles está possuído, ou possuída, pelos seus aspectos inconscientes opostos – a esposa pelo seu Animus e o homem pela sua Anima cria-se, automaticamente, um clima de irritação e aí ele, ou ela, acabam totalmente possuídos pelo seu elemento inconsciente. A discussão passa a ser entre o representante do Animus e o da Anima que tendem a levar, sempre, o diálogo, a seu nível mais baixo, gerando uma desagradável atmosfera de intransigência e de mesquinhez.

 

                        A Psicologia Analítica afirma que se um indivíduo lutou séria e longamente contra a sua Anima ou o seu Animus de maneira a não se deixar identificar parcialmente com eles, o inconsciente muda o seu caráter dominante e aparece representado numa nova fórmula simbólica. Não mais nas tendências parciais masculinas ou femininas, mas na representação do self  - o núcleo mais profundo da psique. Nos sonhos da mulher, este núcleo é personificado por uma figura, agora feminina, com características de superior. No caso do homem, como uma forma masculina, igualmente superior.