AS FUNÇÕES PSÍQUICAS SEGUNDO JUNG
Algumas alunas fizeram um teste psicológico, através da Internet, que dá um perfil com as características da personalidade. Ele está baseado nos conceitos desenvolvidos por Carl Jung para as funções psíquicas. Veremos, agora, quais são estes conceitos.
Jung diz que a nossa consciência se relaciona com dois campos distintos. Primeiramente, os dados originários do mundo exterior, do nosso meio ambiente. É um sistema de orientação relacionado a nossa manipulação dos fatos exteriores com os quais a gente entra em contato através das funções sensoriais (isto é, com os sentidos). O outro campo é o relacionado aos fatores inconscientes, mas isto não vai nos interessar para o teste de personalidade.
Para Jung nós temos quatro funções psíquicas que nos orientam no mundo exterior. A primeira compõe as sensações – a função dos sentidos. Os psicólogos franceses a chamam de fonction du réel e é a soma de todas as percepções de fatos externos vindas até a gente. A sensação nos diz que alguma coisa é (ou existe). A seguir, distinguimos a função do pensamento. Definir filosoficamente o pensamento é uma coisa extremamente complicada mas nós todos sabemos (e sabemos porque pensamos) o que é pensamento. Numa definição bem simples, Jung diz: o pensamento exprime o que uma coisa é. Dá o nome a esta coisa e junta-lhe um conceito. Pensar é perceber e julgar. A terceira função que distinguimos na consciência é o sentimento. Sentimento já foi alvo de nossas aulas no ano passado, mas nós falamos abrangentemente sobre o sentimento. Jung, agora, vai nos dar algo bem simples sobre o sentimento. Para ele, sentimento é o que nos informa sobre o valor das coisas. É ele que nos diz, automaticamente, por exemplo, se uma coisa é aceitável, se ela nos agrada ou, pelo contrário, é desagradável ou até repugnante. Quem nos informa isto, no ato e profundamente enraizado no Eu, é o sentimento.
Mas Jung ainda coloca uma quarta função. Recapitulemos: a sensação nos diz que alguma coisa é; o pensamento exprime o que ela é; o sentimento dá o valor àquela coisa (geralmente, um valor duradouro e difícil de ser modificado). Então o que mais poderia existir? Poderíamos nos contentar com isto, isto é, que a visão consciente do mundo externo se completa ao sabermos que as coisas são, os que são e o valor que elas têm para nós. Mas Jung ainda vai mais longe. Para ele, as coisas do mundo estão em constante transformação. Na existência da criatura as coisas aparecem, se desenvolvem e até se encerram. É impossível sabermos o que vai aparecer, desenvolver-se ou sumir. O destino dos nossos objetos, aquilo que nos cerca ou que vai nos cercar no mundo. A não ser que se tenha uma coisa que vulgarmente se chama faro. A isto, mais especificamente, denominamos intuição. Que é uma faculdade que em determinadas pessoas parece mágica, coisa da próxima da adivinhação e que lhes dá muita vantagem em determinadas condições da existência. Jung reconhece a intuição como uma função psíquica.
As funções psíquicas, exceto a quarta (intuição), são geralmente controladas pela vontade ou, ao menos, a gente tem esta impressão. Mas, se as coisas não ocorrem dentro deste esperado, ficamos extremamente aflitos e é o início do que o hoje se chama estado de pânico, quando alguma coisa foge ao nosso controle e se move por conta própria. Quando estamos no controle, a cavaleiro das funções psíquicas, elas podem ser postas fora de uso, desligadas, selecionadas, aumentadas, diminuídas e até dirigidas por nossa intenção. Mas, com grande freqüência, nós nos pegamos em flagrante com as questões psíquicas escapando ao controle e agindo de modo autônomo. Elas podem agir de uma maneira tão não consciente que não sabemos o que está acontecendo e só vamos tomar contato do resultado posteriormente. Só um bom amigo, ou amiga, pode, às vezes, nos advertir que se ficou invejoso, enciumado, ofendido ou bravo, magoado ou esteve arrogante e totalmente inconsciente a cerca do que sentiu ou até de como falou ou o que falou. Na verdade, contrariamente aos livros de auto-ajuda, não podemos anular um sentimento ou uma sensação. Não adianta dizer que não vai sentir mais isto ou aquilo, seja amor ou ódio, pois o sentimento surgirá de qualquer maneira. Também não adianta dizer: eu não vou pensar mais nisto, pois a energia específica particular de cada função tem expressão própria e não pode ser anulada ou substituída por outra.
Cada um de nos tem suas peculiaridades e preferências. Os dotados de inteligência para o raciocínio, para a lógica e para a razão, preferem pensar sobre as coisas que se enquadram entre suas habilidades. Outros, cuja função sentimento é particularmente bem desenvolvida possuem boa comunicabilidade e demonstram um grande senso de valores e princípios. Podem ser, até, verdadeiros artistas em criar situações que envolvam sentimentos e vivê-los com discernimento. Também são empáticos com o sofrimento das pessoas que lidam com eles. Um sujeito com agudo senso de observação objetiva irá valer-se, principalmente, de sua sensação. Segundo Jung, a função dominante é a que dá a cada indivíduo a sua espécie particular e peculiar de personalidade.