AS FUNÇÕES PSÍQUICAS SEGUNDO JUNG (II)

01/11/2013 11:53

                        Como é a função dominante que vai dar a cada pessoa a sua espécie de personalidade, um sujeito com agudo senso de observação objetiva irá valer-se, principalmente, de sua sensação. O Homem que age, por exemplo, dirigido predominantemente pelo intelecto, constitui um tipo inconfundível. E, a partir de seu traço dominante, pode-se deduzir qual seja a condição do seu sentimento, ou da sua função sentimento. Quando o pensamento é a função superior, o sentimento só poderá ser a inferior. Esta mesma regra, Jung aplica às outras funções. Isto pode ser visto na cruz das funções, um diagrama elaborado pelo psicanalista que será mostrado na última folha desta apostila. No centro está o Ego, dotado de certa quantidade de energia disponível (e que representa o que denominamos força de vontade, aquela parte consciente que você sente como dirigindo o seu Eu). No caso do tipo pensamento, esta força será canalizada para o raciocínio, para o pensamento “P”. Então o sentimento “S” será colocado no extremo oposto sendo, neste caso, a sua função relativa inferior. Isto se deve ao fato de que, ao pensarmos, excluímos o sentimento e devemos, mesmo, deixar o sentimento e seus valores de lado quando pensamos, pois eles são uma sobrecarga para os pensamentos. Entretanto, os que se guiam pelos valores dados pelo sentimento não se valem do pensamento, pois nenhum indivíduo possui os dois opostos agindo simultaneamente no mesmo grau de desenvolvimento.

 

                        O mesmo se aplica a sensação “Sen” e a intuição “I”. De que maneira elas se afetam mutuamente? Se prestarmos atenção numa pessoa que trabalha com as percepções sensoriais, veremos que seus olhos tendem a convergir, a encontrar-se num determinado ponto. Já o olhar da pessoa intuitiva apenas cobre as superfícies das coisas, ela não olha fixamente, mas globaliza os objetos num todo. E estabelece um ponto na periferia do campo de sua visão. Isto constitui um pré-sentimento, ou pressentimento, e é inerente ao caráter intuitivo, o não se prender à observação de detalhes. Ele sempre busca apreender a totalidade da situação e então, repentinamente, alguma coisa emerge em sua mente a partir desta globalização.

 

                        Mas, se você pertence ao tipo inverso, sensação, é comum que observe os fatos   de   sua   realidade    imediata,    mas   a   intuição   não   o   orientará   devido  à incompatibilidade de atuação simultânea particular às duas funções. A dificuldade está em que o princípio de uma exclui o da outra e, por isso, Jung as põe como opostas na cruz das funções. Usando o diagrama, podemos chegar a muitas conclusões importantes sobre a estrutura de determinada consciência, vale dizer sobre personalidades individuais. Se, por exemplo, numa pessoa o pensamento é altamente diferenciado, isto implica que o sentimento deve ser indiferenciado. O que significa isto? Que tal pessoa não tem sentimento? Não. Jung diz que é exatamente o contrário. As pessoas do tipo pensamento freqüentemente, na intimidade, se descrevem    assim: -“Tenho sentimentos fortes, sou muito emocionável, sou um temperamental”. Na verdade, elas se deixam permear pelo fluxo poderoso de suas emoções e as temem. São tomadas por elas e até, às vezes, vencidas. É também impossível fazê-las compreender mais profundamente seus sentimentos. Dizem: - “Eu sinto assim e pronto!” Elas não conseguem diferenciar seus sentimentos.

 

                        O reverso é igualmente válido. No tipo sentimento elas jamais permitirão que os pensamentos e raciocínios as atrapalhem, principalmente nos seus valores. Rejeitam, a priori, os argumentos. Normalmente, são uma pessoa agradáveis apesar de apresentarem idéias e convicções extraordinárias mas um pensamento de qualidade subdesenvolvida.

 

                        O processo é o mesmo com referência aos tipos sensação e intuição. O intuitivo sempre se irrita quando colocado em frente a uma realidade concreta – do ponto de vista da realidade ele sempre fracassa – por situar-se fora das possibilidades atuais da vida. É o que planta um campo mas, antes da hora da safra, já está lançando novas sementes e deixa muitos campos para serem arados para trás. Sempre com novas esperanças à frente sem que nada surja de verdadeiro. O tipo sensação está ligado às coisas. Se fixa numa determinada realidade e a coisa só lhe parece verdadeira quando dotada de existência real, concreta (quer o dinheiro na poupança). Imagine o que sente o intuitivo ante um dado concreto. Para ele, aquilo é justamente a coisa errada. Quando a um indivíduo do tipo sensação falta uma realidade concreta de apoio, por exemplo quatro paredes para se fixar, para ele parece que o mundo desabou. Dê a um intuitivo as mesmas quatro paredes e a sua única preocupação será um jeito de sair disto pois para ele a situação de fato é uma prisão que o impede de lançar-se em busca de novas possibilidades.

 

                        Jung adverte que a cruz das funções só desempenha um papel na psicologia prática. É de uso limitado. Não serve para enquadrar as pessoas em geral, dizendo fulano é um intuitivo ou ele ou ela é do tipo sensação. É mais útil para explicar uma pessoa à outra. “Sempre que tive de explicar uma esposa a seu marido, ou vice-versa, estes critérios bem objetivos me foram valiosos”, diz Jung. Para ele, a função inferior, ou mais indiferenciada, não é consciente e, por isso, dificilmente poderá ser manipulada pela vontade. Aquele que é realmente um pensador típico pode dirigir seu pensamento, bem como controlá-lo, não é escravo das idéias. Mas ao tipo sentimental isto é vedado. Já o intelectual tem medo de ser tomado pelos sentimentos.