COMO SE FORMAM OS SENTIMENTOS ROMÂNTICOS

10/01/2014 10:16

O estudo do amor libidinoso, ou sexual, é muito mais fácil. Livros e mais livros estão cheios das descrições do que se passa no corpo com a excitação sexual e as modificações das funções corporais até a descarga da tensão. Já, o amor romântico, é um sentimento e, como todo sentimento, se encena misteriosamente no interior de nossa mente (ou, se preferirem, de nossa alma). Uma corrente de antropólogos diz que foi a nossa transformação em seres bípedes que levou ao aparecimento deste tipo de sentimento na raça humana. Mudamos fisicamente, afetivamente e socialmente quando passamos a andar eretos: copulamos face a face, nos acasalamos e constituímos famílias nucleares. A bipedia para a antropóloga Helen Fischer inaugurou a mais fundamental das trocas da criatura: “o sentimento do amor”, este sim o Eros de Platão e não a libido de Freud.

 

                        Assim, o amor veio do sexo e da reprodução, mas como um bônus para colorir a existência de Adão e de Eva que, sem ele, só teriam que, em preto e branco, ganhar com seus suores “o pão nosso de cada dia”. Podemos, então, distinguir dois sistemas na mente humana: um, que é o impulso sexual – o amor que motiva as pessoas a buscarem parceiros pela atração carnal. Um segundo é o programa da mente para a atração romântica, que faz as pessoas se fixarem em parceiros específicos. É o que faz João escolher e amar a Maria e não a Joana, independendo de qual é a mais bonita, a mais inteligente ou a mais rica. Quem ama o feio, bonito lhe parece!

 

                        O amor romântico, em seu estágio inicial, quando intenso e arrebatado, é o que chamamos paixão. É um fenômeno humano universal. Independe da raça, da cor, da religião, ou da cultura. Ama igual o aborígine australiano e o yuppie nova-iorquino. O amor romântico associa a presença do objeto do amor ao prazer. Basta até a lembrança. Estudos recentes de imagens do cérebro funcionando mostram que a fotografia da pessoa amada ativa no cérebro o sistema de recompensa, aquele responsável pelas sensações prazerosas.

                                                                                                                                 

                        O sexo, como agente da procriação é, possivelmente, a sua função mais importante. Mas, distinguimos outras categorias funcionais no sexo. Entre elas, o sexo acasalador e o sexo conservador do casal. À medida que um casal humano desenvolve um relacionamento que lhe permita iniciar carícias e ou chegar à relação sexual propriamente dita, este relacionamento é ajudado, favorecido e incrementado pelas atitudes lúbricas que compartilha. A função acasaladora do sexo é tão importante para a nossa espécie que é, exatamente, na fase de acasalamento, que as atividades sexuais atingem sua intensidade mais alta. É por isso, também, que as transas casuais podem causar de dores de cabeça até problemas sérios. Atualmente, como os costumes permitem que um encontro amoroso sem maiores pretensões acabe na cama, há sempre o perigo de que a força da impressão sexual em um dos dois do par desencadeie um vínculo mais forte e, no caso, unilateral. Provavelmente, os dois vão ter problemas. O que se fixou, por motivos óbvios. Mas o outro também, afinal vai ter de lidar com uma pessoa tomada por um poderoso sentimento que o faz, ou pode fazê-lo, perder a cabeça.

 

                        Uma vez formado, com sucesso, o vínculo em um casal, as atividades sexuais funcionam mantendo e reforçando o afeto. Com o tempo, e mesmo nos jovens, a freqüência vai se tornando menos intensa, afinal a função acasaladora não está sendo exercida, o casal já está formado. As funções acasaladora e conservadora do casal da atividade sexual são bem vistas quando um casal já formado se separa por algum tempo em função de exigências externas. Quando se reúnem, há uma ressurgência típica de alta intensidade sexual nas primeiras noites que estão juntos à medida que também sofrem um processo de revinculação.

 

                        É claro que com os anos a freqüência das relações sexuais tenda a diminuir acentuadamente. Mesmo num casal que se dê bem e que se ame. A freqüência depende de muitas variáveis, mas as estatísticas americanas mostram que são os casados, e não os solteiros, que têm maior número de relações sexuais. Mas, também há casais que praticamente encerraram as atividades sexuais e nem por isso deixaram de ser casais harmoniosos e funcionando bem em todos os outros aspectos. Mesmo sem sexo, são casais estáveis. Por que? Porque há três sistemas que sustentam o amor: primeiro, o libidinal, segundo, o amor romântico e, também, um terceiro sistema que é um mecanismo para a ligação em longo prazo, aquele que induz as pessoas a permanecerem juntas tempo suficiente para completarem seus deveres como progenitores. Eros enquadra-se bem nesta definição. É também um sentimento, ou impulso que mantém as pessoas ligadas para sempre em volta da estrutura da família nuclear para a criação dos filhos. Talvez seja  por isso que, em alguns casais, o marido dirige-se à mulher como “Mãe” e a mulher ao marido como “Pai”. Afinal, com o passar dos anos, a função mais importante dele é ser o pai dos filhos dela e a dela é ser a mãe dos filhos dele.