COMPETIÇÃO ENTRE IRMÃOS E PERSONALIDADE

10/01/2014 10:45

                        Há, também, a hipótese de que a parte não geneticamente determinada da personalidade, provenha das estratégias de competição dos irmãos pelo investimento paterno, que vai do desmame até a leitura do testamento.

 

                        Se as pessoas sempre dessem à luz a uma só ninhada de filhos, todos nascidos no mesmo dia e idênticos, a disputa entre irmãos e o conflito com os pais seriam apenas uma luta entre irmãos, cada um exigindo mais dos pais do que a sua justa parte. Mas os filhos são muito diferentes e, ainda por cima, nascem em momentos até inversos. Embora os pais esclarecidos façam tudo o que esteja a seu alcance para evitar o favoritismo, nem sempre conseguem (dois terços das mães britânicas americanas confessaram amar mais a um dos filhos).

 

                        Quando se pede aos pais para imaginarem a perda de um filho, eles afirmam que sofreriam mais se tivessem perdido o mais velho, isto até  a adolescência. O aumento e a diminuição do luto imaginado tem uma correlação quase perfeita com as expectativas de vida da criança. Os mais velhos, principalmente quando já atravessaram o campo minado da infância, são os que têm mais chances de sobreviver. Por um outro lado, o filho mais novo, por ser menos auto-suficiente, precisa de mais ajuda dos pais. Os pais relatam mais sentimentos ternos pelos filhos mais novos, embora pareçam valorizar os mais velhos. Quanto mais velhos os pais ficam, as coisas começam a mudar. O novo filho passa a ser o último que eles terão, então não há mais o porque poupar e o caçula sempre tende a ser mimado. Os pais também tendem a favorecer os filhos que, com certa frieza, poderíamos dizer que são os seus melhores investimentos: os mais talentosos, os com mais charme, os mais bem apessoados, os mais saudáveis, etc.

 

                      Os filhos são extremamente sensíveis ao favoritismo. Mesmo na vida adulta, e até mesmo após a morte dos pais, as iniqüidades passadas são, ainda, importantes, e causa de litígio e discussões permanentes entre os irmãos. Os filhos, desde que se dá conta como indivíduos, fazem o melhor que podem para se sair bem da parada que o destino lhes apontou, como num jogo em que se recebe cartas de mão. Há, então, a hipótese que o indefinível componente não genético da personalidade, seja o conjunto de estratégias para competir com os irmãos pelo investimento paterno. Sendo este o motivo pelo qual as crianças de uma mesma família são tão diferentes. Afinal, todos estão em posições únicas. Cada criança desenvolvendo-se em uma ecologia familiar própria, o que suscita uma maneira diferente para se sair o melhor possível da infância. Em determinas sociedades, até para sobreviver à infância.

 

                        O primeiro filho conta com inúmeras vantagens. Só por ter sobrevivido até sua idade presente, é o mais precioso para os pais, já que mostrou que tem potencialidade para vingar. Obviamente, é o maior, o mais forte, e o mais sabido e assim vai permanecer enquanto os mais novos ainda forem crianças. Tendo ocupado o trono por mais de um ano, o primogênito vê o recém-nascido como um usurpador e desafiante. Assim, deveria se identificar com os pais, cujos interesses estiveram, até aqui, associados a seus próprios e deveria resistir às mudanças de status quo, que sempre lhe foi conveniente. Ele, também, deve ter aprendido a usar, do melhor modo, os poderes e benesses que o destino lhe outorgou. Em suma, o primogênito deveria ser, então, conservador e valentão. As crianças que nascem como segundo filho precisam aprender a atuar num mundo que já contém este posseiro e defensor da ordem estabelecida. Como não podem conseguir o que desejam pela força ou pela bajulação, por identificação com os pais, cultivariam estratégias opostas. Deveriam, então, tornar-se apaziguadores (não-valentões) e cooperadores. E, tendo menos interesse no status quo, deveriam ser receptivos às mudanças. Esta dinâmica, é claro, depende, também, dos componentes inatos da personalidade e de outros fatores como sexo, tamanho e diferenças de idade. Os que vêm depois, precisam ser flexíveis por outras razões. Os mais velhos já fincaram suas bandeiras em quaisquer habilidades pessoais, profissionais e sociais nas quais sejam bons. É inútil, a um filho mais novo, competir nesta arena já ocupada. Qualquer êxito teria de ocorrer em detrimento do irmão mais velho e mais experiente e ele, ou ela, estaria forçando os pais a escolher um vencedor. Ele deveria, então, procurar um nicho diferente para mostrar o seu valor.

 

                        Os terapeutas de família discutem esta dinâmica há décadas. Mas, existe alguma prova que estas teorias estão corretas? Foram analisadas cento e vinte mil pessoas em cento e noventa e seis estudos, adequadamente controlados, sobre a ordem de nascimento e a personalidade. Estes estudos confirmam o que foi previsto pela teoria.