HOMENS E MULHERES (VI)
O mote que rege a nossa cultura atual é: “É proibido proibir”. As imagens eróticas e o seu exagero, a pornografia, ficaram quase livres. Talvez as ressalvas sejam cenas mais explícitas de sexo antes das vinte e duas horas e genitália desnuda nos desfiles das escolas de samba. A alavanca da eroticidade humana é o corpo feminino que teve suas formas buriladas pela evolução para atrair o macho da espécie – coisa que faz admiravelmente bem. A recíproca não é verdadeira. De fato, a mente masculina tem a possibilidade de excitar-se facilmente com uma possível parceira sexual, mas a feminina não.
Não teria sentido a mulher excitar-se facilmente com a visão de um homem nu, ou em poses eróticas. Vamos aplicar, aqui, o raciocínio frio da economia. Uma mulher saudável e jovem nunca enfrenta escassez de parceiros sexuais dispostos. Neste mercado comprador, ela pode procurar o melhor marido possível, os melhores genes para os seus filhos e até outros retornos substantivos para seus favores sexuais. Se ela pudesse ser excitada pela visão de um homem nu, os homens poderiam induzi-la a manter relações sexuais exibindo-se, e a posição de barganha dela ficaria prejudicada.
As reações dos dois sexos à nudez são muito diferentes. Os homens vêm uma mulher nua como uma espécie de convite. As mulheres vêm o homem nu como uma espécie de ameaça. Em 1992, um estudante de Berkeley, que dizia protestar contra as tradições sexuais repressivas, resolveu fazer Cooper, assistir às aulas e freqüentar o refeitório completamente nu. Foi expulso quando algumas das estudantes queixaram-se que seu comportamento deveria ser classificado como assédio sexual. Nos testes feitos em laboratórios de Psicologia, os homens mostraram, no que os psicólogos chamam de “passagem neutra” (por exemplo), um casal conversando amigavelmente, uma resposta já maior que as mulheres mostram às cenas sexuais francas.
A quebra quase total da estrutura repressiva milenar mostrou claramente aos homens o que já sabiam mas que, por narcisismo, usavam um discurso inverso para encobrir. A real condição do homem é de nítida inferioridade natural em relação à mulher na situação sexual estrita. Elas podem sempre que quiserem. Mas não é só na cama. Também se sentem inferiorizados por não poderem ser desejados, e de maneira imediata e direta, como são as mulheres pelos homens.
Para serem os escolhidos, têm de mostrar muito mais do que uma cara bonita e um corpo harmonioso. O psicólogo do Texas, Buss, elaborou um questionário sobre a importância de dezoito qualidades de um parceiro possível para homens e mulheres e o distribuiu para dez mil pessoas em trinta e sete países, de seis continentes e até cinco ilhas, isto é, uma distribuição mundial abarcando todos os tipos de pessoas e estágios culturais. Até os nossos yanomami participaram da pesquisa. Em praticamente todos os lugares, as mulheres valorizaram mais do que os homens o status, ambição e diligência de um possível companheiro. E, também, a confiabilidade e estabilidade dele. Em todos os países e culturas, os homens deram mais valor do que as mulheres, à juventude e à aparência.
Em nossa sociedade, o melhor prognosticador da riqueza e do poder de um homem é a aparência de sua esposa e o melhor prognosticador da aparência de uma mulher é a riqueza de seu marido. Vários homens, notoriamente feios mas poderosos, ricos, ou famosos, casam-se com mulheres deslumbrantes e, muitos são até considerados símbolos sexuais. Onassis e Kissinger são exemplos.
As meninas cedo descobrem que a beleza é fundamental para atrair os rapazes. E isto não tem nada a ver com a liberdade sexual do pós-pílula. As coisas foram até bem além disto. A grande preocupação que a mulher tem com seu aspecto físico transcendeu, na mente feminina, a meta de atrair o interesse erótico do homem. É quase uma obsessão no mundo feminino e lhes valeu uma série de adjetivações pejorativas dos homens e do mundo machista em geral: frívolas, caprichosas, fúteis, vaidosas, etc. Até a Psicanálise credita às mulheres um excesso de amor narcísico, isto é, dirigido ao self. A indústria da beleza feminina, que inclui spas, cirurgia plástica, fittness, cremes, adereços, dietas, moda, e assim por diante, fatura trilhões de dólares pelo mundo afora. A pergunta - por que as mulheres tão bem se tratam - admite várias respostas: que não se vestem para os homens mas que se vestem para outras mulheres, ou que se vestem para elas próprias. Uma mulher típica, mesmo sozinha e, é claro, sem intenção de conquistar nenhum homem ou mostrar-se em público, vai tratar-se com esmero - passar seus cremes e fazer as sobrancelhas. Ser bela, para a mulher, é uma satisfação lúdica. Um instinto cujo fim é em si mesmo. É preciso sentir-se bela porque não se sentir provoca um sentimento de desconforto (até angústia) e sentir-se é gratificante, mesmo que seja sozinha num quarto de hotel.