JUNG E SEUS RACIOCÍNIOS SEMELHANTES AOS DOS QUÂNTICOS
Vejamos a resposta de Jung à pergunta de um psicanalista lá na Clínica
Tavistock em Londres. A pergunta tinha sido: se o afeto (a emoção) é causada por condições fisiológicas características ou se elas seriam o resultado de um fato mental. Esta resposta foi transcrita depois de uma conferência, ou melhor, um conjunto de cinco conferências seguidas que são chamadas de Tavistock Lectures e são tidas como leitura básica para o entendimentodo pensamento jungiano:
- “A relação corpo-mente constitui um problema extremamente difícil. Pela teoria James-Lange, o afeto é o resultado de alteração fisiológica. A pergunta: Corpo ou psique é o fator preponderante? Sempre será respondida segundo diferenças temperamentais. Aqueles que por temperamento preferem a teoria da supremacia do corpo afirmarão que os processos mentais são epifenômenos da química fisiológica. Os que acreditam mais no espírito adotarão a tese contrária: o corpo é apêndice da mente e a causalidade reside no espírito. A questão tem aspectos filosóficos e por não ser filósofo não posso arrogar a mim a decisão. Tudo o que se pode observar empiricamente é que processos do corpo e processos mentais desenrolam-se simultaneamente e de maneira totalmente misteriosa para nós. É por causa de nossa cabeça lamentável que não podemos conceber corpo e psique como sendo uma única coisa. A física moderna está sujeita à mesma dificuldade: atentemos para o que acontece com a luz! Comporta-se como se fosse composta de oscilações e ainda formada por corpúsculos. Foi necessária uma fórmula matemática muito complexa, cujo autor é M. de Broglie, para auxiliar a mente humana a conceber a possibilidade de corpúsculos e oscilações serem dois fenômenos que formam uma única e mesma realidade. É impossível pensar isso, mas somos obrigados a admití-lo como postulado. (...) Talvez um dia possamos descobrir um novo tipo de método matemático, através do qual fiquem provadas essas identidades. Mas, atualmente, sinto-me totalmente incapaz de afirmar se é o corpo ou a psique que prevalece.”
Setenta anos depois, e com toda a parafernália científico-tecnológica, não avançamos tudo na compreensão mente-corpo e a frase de Jung continua válida: - “... os processos do corpo relacionados aos processos mentais desenrolam-se de uma maneira totalmente misteriosa para nós.” O comentário de Jung sobre a nossa cabeça lamentável deve estar referido a nossa inteligência, que apesar de magnífica para muitas coisas se comparada aos outros seres viventes, não seria capaz de entender o fenômeno da consciência por limitações intrínsecas ao nosso próprio aparelho pensante. Dito de outra maneira, a nossa mente não teria inteligência para alcançar a complexidade do fenômeno do ser consciente. Nós seríamos burros para isso. Mas, como a Física Quântica já foi capaz de achar uma fórmula matemática para reunir numa mesma equação os dois aspectos da realidade última da natureza (matéria) – onda e partícula - Jung esperava que o raciocínio quântico se estendesse ao paralelismo psicofísico. Então, poderíamos descobrir um novo tipo de método através do qual fique provada a identidade mente-corpo.
Em 1990, o físico matemático Roger Penrose, co-autor com Stephen Hawking de muitos trabalhos sobre Física Quântica e buracos negros, escreveu um best seller intitulado “The Emperor’s new mind”. Este livro mostrou-se um empedernido inimigo da Teoria Computacional da Mente que se propõe a explicar como a mente funciona descrevendo-a como um sistema de órgãos computacionais. Esta, aliás, é a meta da ciência chamada Cognitivista. A Teoria Computacional da Mente formula um modelo suficiente para explicar quase todos os fundamentos da mente humana, exceto o da consciência e, junto com a Neurobiologia, são os dois caminhos atuais com mais êxito para explicar o funcionamento da psique. Ela diz que a inteligência não provém de um tipo especial de espírito encarnado na matéria, de uma qualidade de matéria especial, ou de uma mal definida energia, mas sim que a inteligência humana provém da manipulação pela mente (cérebro) de um produto diferente e muito sutil: a informação. Penrose, depois de sutis argumentos baseados na lógica matemática, afirma que como está entre as habilidades mentais do Homem ver que determinados enunciados matemáticos são verdadeiros ou não e que isto os computadores não podem fazer tem, por conseqüência, que a mente humana não pode ser explicada como sendo um sistema computacional. Simplificando, pelo raciocínio de Penrose, a mente não pode ser um computador de neurônios, de carne. Ele vai mais longe, no seu livro diz que além da mente não poder ser explicada como computação, não pode ser explicada pela operação de neurônios (estes seriam grandes demais). Tampouco, pode ser explicada pela Teoria Darwinista da Evolução (se bem que Darwin, no fim de: “A origem das espécies”, tenha afirmado que depois da Teoria da Evolução, a Psicologia seria baseada em novos fundamentos). Para Penrose, a consciência não pode ser explicada nem mesmo pela Física como atualmente a entendemos. Efeitos quânticos-mecânicos (a serem explicados em uma e até agora inexistente Teoria da Gravidade Quântica), atuariam nos microtúbulos que compõe o minúsculo esqueleto dos neurônios. Estes efeitos são tão estranhos que podem ser equiparados à estranheza da consciência. Apesar do peso intelectual de Penrose, suas sugestões ficaram no ar. Não temos sequer um indício, até hoje, do modo como a consciência poderia originar-se por fenômenos quânticos.