O AMOR ROMÂNTICO

10/01/2014 10:09

 

                        O amor romântico é uma emoção que não é desencadeada pelo valor objetivo que você tem como parceiro no mercado. As pessoas que são perfeitamente sensatas em relação ao amor, provavelmente não o estão sentindo (ou, no máximo, o sentem medianamente). A pessoa é incapaz de criar, por deliberação, em si mesma, o sentimento correspondente à paixão romântica. Para a perplexidade dos casamenteiros, do pretendente e até de si mesma. Em  vez disso, ela pode vir até contra a sua vontade.

 

                        Diferente daquele que lhe disser que foi a sua beleza, o seu Q.I, a sua cultura, ou a sua posição ou status que atendeu a seus padrões de exigências para ser seu objeto amoroso (apesar disto ser estatisticamente correto), o caminho para o coração do outro é declarar o oposto: você está apaixonado e não pôde evitar.

 

                        O amor é o maior inspirador da Literatura, da Poesia, da Música Erudita, do Ballet e da Música Popular. O sentimento romântico prescinde, até, do encontro dos corpos: o trovador medieval cantava um casto amor à sua dama; Dante amava Beatriz sem jamais a tê-la tocado. Mesmo o roqueiro heavy metal, com sua aparência pseudo-horripilante, cheio de piercings  e maltratando, ruidosamente, a guitarra, quase sempre não está cantando sobre drogas, sexos ou satã. Ele está falando sobre o amor. Sua letra típica fala do caráter irracional e incontrolável do seu desejo e do que acontece no seu corpo por causa da emoção. Uma letra típica diz: - “Eu te quero muito, isto está me enlouquecendo, não consigo comer, não consigo dormir, meu coração bate como um tambor enorme, você é a única, não sei porque te amo como te amo, você está me pondo louco”.                                                                                                                                 

          Podemos, também, perfeitamente imaginar a repercussão no outro, o que uma declaração arrebatada de paixão pode fazer. Estas afirmações acendem, geralmente, uma luz de alerta. Nós, por causa da nossa poderosa mente racional, podemos sempre refletir sobre os nossos sentimentos e os sentimentos dos outros. Se estruturalmente temos as pulsões do Id, também dispomos de um Ego racional. A Neurofisiologia diz que existe uma estreita integração entre os circuitos neurais que envolvem o sistema límbico (a sede das paixões) e as amídalas cerebrais e o lobo pré-frontal. Em condições normais, as áreas pré-frontais burilam as nossas reações emocionais originadas no sistema límbico. O auto controle é, certamente, a vitória do neo-córtex na batalha pelo controle da mente.

 

            Assim, a outra parte da psicologia do romance também entra em ação: ir ao mercado com inteligência. O Groucho Marx ficou imortalizado, menos pelos seus filmes, e mais por ter afirmado que não entraria para sócio de um clube que o aceitasse como sócio. Nós, também, não queremos como pretendente alguém que nos ame loucamente, nos ame depressa demais ou nos aceite sem restrição. Isto pode significar que o pretendente está desesperado e que o seu ardor é desencadeado com muita facilidade. O sentimento de amor do outro costuma valorizar você e se o outro se apaixona à toa não lhe agrega qualquer valor. A contradição do fazer a corte é que você tem de mostrar o seu desejo e o seu sentimento de maneira inequívoca. Mas, ao mesmo tempo, fazer-se de difícil.

 

                        Isto decorre da antinomia entre os dois componentes do complexo psicológico do romance: estipular, racionalmente, um padrão mínimo para os candidatos no mercado de parceiros possíveis, mas, de repente, entregar-se de corpo e alma a um deles, seguindo uma inexplicável e misteriosa pulsão.

 

                        Como Cupido, até o computador tem se relevado um fracasso. No começo, eram as agências matrimoniais, depois podemos ver nos jornais um tipo de anúncio assim: “- divorciado, um metro e setenta, de boa aparência, realizado financeiramente procura...”. Agora, a seleção já é feita por computador. Mas a máquina, ou o site serve apenas para ultrapassar a timidez e realizar o encontro entre aqueles que supõe que gostam de “morenas de quadris largos, ou de homens altos de bigode que gostem de literatura francesa”. Mas, outra coisa é encarar aquele jovem senhor de camisa salmão sentado no bar do restaurante, ou sentir-lhe o cheiro e a temperatura de sua mão. O especialista em terapia de casal Jean Lemaire diz que há duas espécies básicas de escolha: uma para a relação passageira, e aquela que se destina a uma duração duradoura, do tipo conjugal. Ao escolher um parceiro para aventuras breves – mesmo que não se tenha consciência do propósito da escolha – o que se procura em primeiro lugar é o prazer da companhia e a satisfação dos impulsos eróticos. O que se pede ao objeto da escolha passageira é que seja essencialmente um fator de satisfação. Caso o objeto da relação falhe, a relação acaba em seguida. No segundo tipo de escolha, embora a parte erótica seja importante, o objeto continuará sendo eleito mesmo que falhe.