O INSTINTO DE MORTE (II)

17/01/2014 12:46

 

                       Freud foi sempre ambivalente em relação à Filosofia e aos filósofos. Em certos momentos menosprezava a Filosofia por sua falta de metodologia científica. Em outros, lamentava não se ter instalado na pura especulação filosófica e via sua carreira como médico como um desvio ou um erro de direção que o deixou longe de sua verdadeira vocação: o de lebenphilosoph, isto é, filósofo da vida – um explorador da essência do Homem.

 

                        Fica claro, para mim, que ao afirmar que: “a vida nada mais é que a manifestação do conflito, ou interação, entre duas classes de instinto: o de vida, ou Eros e o de morte, ou Tanatos”Freud usa uma típica afirmação da Filosofia e bem dentro do espírito dos pré-socráticos que, aliás, ele conhecia muito bem.

 

                        Thales de Mileto (circa 400 a.c.), considerado o fundador da Filosofia Ocidental, apesar de termos dele só a tradição oral, foi o primeiro homem conhecido, a fazer um pronunciamento científico-filosófico sobre o mundo. –“Tudo é feito de uma única substância”, disse Thales de Mileto. Para ele, na coreografia de criação e destruição que caracteriza o mundo natural, tudo o que existe vem de uma matéria única e para ela reverte. A substância que compõe todas as coisas, para Thales, é a água que pode se transformar e se adaptar sem jamais perder sua identidade. Toda matéria do mundo seria feita dela, de variações da água.

 

                        Os seguidores de Thales continuaram a defender a noção chave, : a existência de uma unidade material por trás das diversidades das coisas. O grupo de Thales é conhecido como os Iônicos e o historiador Berlin chama de ‘encantamento iônico’a busca pela unidade de todas as coisas. O pensamento que durou até a Renascença foi o defendido por Aristóteles, em que todo o mundo abaixo da lua fosse composto das quatro substâncias fundamentais – terra, água, ar e fogo, exceto as esferas celestes acima da lua que eram feitas de uma quinta essência, o éter, a quintessência.