OS AMORES SEGUNDO HELEN FISCHER (II)
O melhor prognosticador da riqueza ou prestígio de um homem é a aparência de sua esposa. E, o melhor prognosticador da aparência de uma mulher é a riqueza ou prestígio de seu marido. Henry Kissinger, baixinho e atarracado, no auge de seu prestígio, foi indicado como símbolo sexual e tido como mulherengo. Aliás, é dele a frase “o poder é afrodisíaco”. Astros da música pop, atletas notáveis e até chefes do tráfico de drogas ou do jogo do bicho, independente de serem até feíssimos, atraem e casam-se com mulheres de beleza notória. Mas, no mundo civilizado e urbano atual, a maioria dos casamentos se dá por amor. As pessoas se casam, agora, quando estão apaixonadas. Um humorista americano (Lebowitz) sugeriu que o homem deveria se casar com sua melhor amiga, e justificou: - “Isso seria válido porque você já se dá bem com ela e, provavelmente, melhor do que com qualquer pessoa com que você venha a se apaixonar. Você provavelmente não escolheu sua amiga porque ela tem um nariz bonitinho, nem longos e românticos cílios. O que você está fazendo quando se casa apaixonado é afirmando que vai passar o resto de sua vida com alguém porque ela tem, por exemplo, lábios carnudos.”
A individualização do amor – porque “ele” ou porque “ela” é um mistério e o único lugar onde podemos procurar as pistas para elucidá-lo é o fato de não procriarmos com nossa melhor amiga ou nosso melhor amigo, mas com, no caso do homem, com sua esposa. O que faz uma pessoa escolher com quem pretende passar o resto de sua vida junto e com quem aceita ter filhos? A escolha quase nunca é racional e consciente. Talvez o seu pretendente tenha escolhido você levando em conta, sem o saber, pequenos detalhes nos lábios ou uns milímetros a menos no nariz. Ou, quem sabe, uma curva mais ou menos acentuada, aqui ou ali, no corpo. Damos tanto valor a estes pequenos detalhes porque são sinais perceptíveis de características mais profundas que não podem ser medidas diretamente: quanto o corpo da pessoa escolhida está bem equipado para ser o outro genitor dos seus filhos. Poderíamos já nascermos equipados com uma percepção inata da beleza? A nossa mente teria a capacidade universal de apontar o belo? Parece que sim. Até os bebes de três meses preferem, segundo as pesquisas, olhar para um rosto bonito.
A National Geographic, em seus filmes, sugere que aqueles nativos que esticam o pescoço com pilhas de colares, que queimam, ou ferem o rosto para formar cicatrizes, que põe enormes pratos nos lábios ou nos lóbulos da orelha e até limam os dentes, que a beleza seria também uma questão cultural. E qual é o padrão de volume corporal? As obesas dos quadros de Rubens, ou a Twiggy dos anos sessenta? Tudo isto indicaria que os padrões de beleza são arbitrários e variam, caprichosamente, nas culturas? Provavelmente não. As pessoas decoram e modificam o corpo por muitas razões. Não tomavam sol, antigamente, e permaneciam muito brancas, com as veias azuladas sobressaindo, para se diferenciarem das camponesas tostadas pelo sol na labuta diária. Depois se bronzearam ao sol das praias para serem diferentes daqueles portadores do amarelo escritório do trabalho cotidiano. Quem disse que tudo o que as pessoas fazem com o seu corpo e para parecerem sensuais para o sex appeal? A maior parte o faz, também, para parecem ricas, ferozes, na moda, para parecem aceitas em determinados grupos e, até para mostrarem que suportam uma iniciação dolorosa.
A atratividade sexual é diferente. Quais são os ingredientes da atratividade sexual? Ambos os sexos desejam para cônjuge alguém que seja sadio, vigoroso e fértil. A natureza não nos equipou com órgãos que imitem estetoscópios ou espátulas de língua. Mas, certamente, a enorme importância que damos à beleza e os parâmetros que utilizamos para verificá-la são os substitutos destes apetrechos.
A ausência de deformidades, simetria no rosto, pele sem manchas, olhos límpidos e dentes brancos intactos são belos e atraentes em todas as culturas. Os ortodontistas descobriram que um rosto é tido como bonito quando seus dentes e mandíbulas estão no alinhamento ótimo para a mastigação. A beleza, então sentida, indica um bom funcionamento corporal. Uma vasta cabeleira agrada e indica uma história de boa saúde agora, mas também nos anos anteriores, já que demora muito tempo para se formar. Cabelos compridos significam um longo período de boa saúde. A modelo, como o pavão, vive exibindo o comprimento e a quantidade de seus cabelos, sacudindo-os vigorosamente nos anúncios de shampoo.
Um sinal sutil de ter bons genes é estar na média. Refiro-me a estar na média em termos do tamanho e forma de cada parte do rosto. Ter um traço físico na média de uma população é uma boa estimativa de se ter um design ótimo que foi favorecido pela seleção natural. Assim, ter um nariz muito grande ou muito pequeno, a princípio, já enfeia o indivíduo. Mas, alguns rostos são ainda mais bonitos e atraentes do que o rosto médio. Quando os meninos chegam à puberdade a testosterona, o hormônio masculino, desenvolve os ossos da mandíbula, da fronte e da região nasal. Os rostos das meninas, sem esse hormônio, crescem muito mais uniformemente. A diferença é tão conspícua na geometria tridimensional da cabeça que nos permite distinguir uma cabeça de homem de uma cabeça de mulher, mesmo se ambas estiverem sem pelos e carecas. Se a geometria de um rosto de mulher for semelhante à de um rosto de homem ela é mais feia. Se for menos semelhante, ela é mais bonita.