OS AMORES SEGUNDO HELEN FISCHER (III)
Uma das primeiras coisas que lhe permite saber se você está apaixonado ou não é que, no caso positivo, vai experimentar uma dramática mudança na consciência – o objeto amado adquire um significado especial, fica notável, único, todo importante. – “Meu mundo mudou”, diz o apaixonado, “e agora ele tem um novo centro e este centro é a Maria.” Antes que um relacionamento transforme-se em amor romântico, você pode ficar atraído por muitos indivíduos diferentes, fixando sua atenção ora num, ora em outro. Mas, eventualmente, as coisas mudam e você pode concentrar todo o seu interesse em um só. Este fenômeno está relacionado a um atributo humano fundamental: a inabilidade do ser humano de sentir paixão romântica por mais de um indivíduo de cada vez. E tanto faz ser do gênero masculino como do gênero feminino. Noventa por cento das mulheres responderam, nas pesquisas, que não aceitariam um encontro romântico com alguém mais se o seu amado estive indisponível. Oitenta por cento dos homens dão a mesma resposta. O amor romântico estabelecido segue a determinação bíblica: não se pode servir a dois senhores.
Ambos os sexos podem sentir ciúmes intensos diante da idéia de um parceiro infiel. Mas, seus sentimentos diferem de dois modos. O ciúme das mulheres parece ser controlado por um sistema mais sofisticado e elas são capazes de avaliar as circunstâncias e determinar se o comportamento do homem constitui uma ameaça aos seus interesses maiores. O ciúme do homem é bem menos sutil e mais facilmente provocado e, às vezes, até rude. Porém, quando desencadeado, o ciúme das mulheres parece ser sentido com a mesma intensidade que o dos homens. As criaturas humanas desenvolveram hábitos reprodutivos complexos devido a dois fatores. Os machos investem, e muito, em sua prole (hoje em dia, então, o investimento vai até o pós-doutorado). Mas, a fecundação ocorre fora de sua vista, no interior do corpo da mulher e, portanto, o macho não sabe qual filho é o seu com certeza. A fêmea, em contraste, pode ter certeza de que qualquer bebê que sair de seu corpo contem seu sangue, e de sua família. O macho traído, sob o ponto de vista da transmissão de seus caracteres genéticos, é pior do que o celibatário porque vai gastar os seus recursos com o filho de outro. O ciúme sexual é encontrado, por isto, em todas as culturas humanas. Na maioria das sociedades algumas mulheres compartilham o marido sem grande esforço – vide os mórmons, os islâmicos – mas, em nenhuma sociedade homens compartilham uma esposa sem grandes conflitos. Uma mulher ter relações sexuais com outro homem é sempre uma ameaça aos interesses genéticos ou reprodutivos do homem pois isto pode levá-lo a trabalhar para os genes de um competidor. Um homem ter relações sexuais com outra mulher não necessariamente constitui uma ameaça aos interesses genéticos da mulher pois, já que se houver filhos ilegítimos deste homem, o problema é da outra mulher. Só será uma ameaça para a legítima se ele desviar recursos e investimentos da esposa e dos filhos desta para outra e seus respectivos filhos, seja temporariamente ou de maneira permanente, no caso de abandono.
Ninguém gosta de pensar em seu parceiro oferecendo sexo ou afeto a qualquer outra pessoa, mas mesmo neste caso, as razões diferem nos gêneros. Os homens podem preocupar-se com o afeto porque eles podem conduzir ao sexo. As mulheres podem preocupar-se com o sexo porque ele pode conduzir ao afeto. O psicólogo David Buss, que tem vários trabalhos publicados sobre preferências masculinas e femininas, constatou que homens e mulheres sentem tanto ciúme diante da idéia do sexo transferido para terceiros quanto do afeto transferido para terceiros, mas quando solicitados a apontar o que mais os tortura, os homens, em sua maioria, responderam que ficavam mais transtornados com a idéia de sua parceira ser sexualmente infiel, do que ela ser emocionalmente infiel. A maioria das mulheres teve a reação oposta.
O desejo sexual é uma pulsão humana primordial e, também, imprevisível. Ele pode aparecer na sua mente quando você está vendo televisão, andando de bicicleta, dirigindo um automóvel, etc. e este estímulo é muito diferente do sentimento do amor romântico. Principalmente as mulheres, sempre marcaram esta diferença. Recentemente, os cientistas, em consenso, estabeleceram que o amor romântico e o desejo sexual estão associados a diferentes circuitos no cérebro e, portanto, pertencem a diferentes instâncias na mente. Falando mais diretamente, desejo sexual e amor não são a mesma coisa. Em todas as civilizações, a humanidade usou o que acreditava ser estimulantes sexuais. A lista é longa e chega a ser ridícula. No Brasil, Luiz Gonzaga, o rei do baião, pedia, em seus versos, ovos de codorna para resolver o problema dele. Até o tomate, que veio da América, foi chamado, ao chegar na Europa, de “maçã do amor.” Os rinocerontes estão à beira da extinção por causa da crença que o pó de seus apêndices nasais favorecem a ereção. Hoje, o Viagra realmente facilita e prolonga a ereção peniana, mas não provoca o desejo sexual do homem. A natureza fez somente uma verdadeira substância que estimula o desejo sexual no homem e na mulher: a testosterona. Está provado: homens e mulheres que têm altos níveis de testosterona circulante tendem a maior atividade sexual. Os atletas que usam (abusam) da testosterona (esteróides anabolizantes) para aumentar a força muscular têm mais pensamentos sexuais, mais ereções matinais e mais orgasmos.