PLATÃO, FREUD, EROS E LIBIDO

10/01/2014 10:12

 

 

                        Dois pensadores são os mais importantes formuladores das nossas opiniões sobre o amor, apesar de estarem separados por mais de dois mil anos: Platão e Freud. Platão nos fala de Eros, o impulso de amar para criar e procriar, o ímpeto em direção à formas mais elevadas de ser e de relacionar-se. Já Freud, nos fala de libido. O Diálogo de Platão conhecido como “O Banquete”, justamente chamado de a mais famosa festa da história, é inteiramente dedicado à discussão de Eros. O cenário é a casa de Agaton, onde Sócrates, Aristófanes, Alcebíades e outros celebram a conquista do prêmio dramático, pelo anfitrião, no dia anterior. A certa altura, Sócrates pergunta: - “Que é o amor?” e cita a resposta de Diotima, célebre mestre do amor.  – “Não é mortal, nem imortal, mas fica entre os dois. É um grande espírito, e como todos os espíritos um intermediário entre o divino e o mortal. É o mediador unindo o abismo que separa os homens e os deuses e, portanto, tudo no amor se reúne  ...”. Deve ter sido aqui que o Vinicius se inspirou para construir o seu famoso verso sobre o amor: - “Que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure”. Eros, na Mitologia Grega, é um dos quatro deuses originais, junto com Caos, Jia e Tártaro e foi quem criou a vida na Terra quando o mundo estava árido. Com suas flechas doadoras de vida, penetrou o frio seio da Terra. Imediatamente, a superfície castanha ficou recoberta de luxuriante verdura.

 

Sexo vem do Latim e significa separação, distinção e, normalmente, é definido em termos fisiológicos corporais. Foi assim que Freud o tomou, como sendo a excitação das tensões fisiológicas e sua satisfação. O prazer sexual é descrito por ele como a redução de uma tensão – volta ao estado de equilíbrio. Em Eros – usado como sinônimo de amor romântico, pelo contrário, não desejamos a liberação da excitação e sim nos apegamos a ela e o prazer é exatamente senti-la. A finalidade do sexo é a gratificação pelo alívio da tensão, enquanto em Eros é o desejo, a ânsia que é o bom. O amor romântico é um modo de relacionamento na qual não procuramos nenhum alívio e sim o seu cultivo.

 

                        Freud lutou, corajosamente, nos seus primórdios, para reduzir o amor à libido – conceito que se adequava muito bem à Ciência Natural da época e à Física do Século XIX. Libido tem algo de Energia e, às vezes, é usado com um sentido quantitativo. Freud só vai falar em Eros em 1920, aos sessenta e quatro anos, no seu trabalho “Para além do princípio do prazer”, quando opõe Eros, definido como o instinto de vida a Thanatos, o instinto de morte.

 

                        Apesar de manipular, até ambiguamente para um pensador de sua magnitude, os conceitos de instinto sexual, impulso e libido durante alguns estágios dos seus escritos, Freud costuma definir libido como sendo o conjunto das manifestações da sexualidade, tanto nos pensamentos, percepções, como, também, nas atividades humanas. Libido, segundo uma definição clássica da Psicanálise, é a energia dinâmica do instinto sexual. Freud ampliou o conceito de sexo incluindo tudo aquilo que não fosse da esfera da agressividade, que chamava de instintos do Eu. Nesta ampliação cabia, até, o carinho, a amamentação, a criatividade artística, o interesse pela ciência, etc. No principio de sua carreira os seus colegas e, principalmente, os amigos, insistiram para que ele mudasse os termos sexual e libidinoso para alguma coisa mais palatável para a época. Mas, teimoso, o velho mestre se manteve rijo. Sua briga com Jung começou quando o suíço quis diminuir a importância da sexualidade na mente humana.

 

                        Freud ateve-se ao modelo de amor sexual libidinoso que, segundo ele, consistiria numa dada quantidade economicamente fixa em cada pessoa. Para ele, qualquer espécie de amor que não levasse à união sexual, é um recalque da sexualidade (e chamada sexualidade de objetivo inibido). A noção freudiana de que possuímos somente uma determinada quantidade de amor libidinoso leva, necessariamente, à conclusão de que quando uma pessoa se apaixona sofre uma diminuição do amor que tem por si mesma (amor narcísico). Daí, conclui Freud, a origem do medo da perda de si mesmo que tem o apaixonado. O fato de Freud não mencionar Eros nos dois terços iniciais de sua vida, não significa que teria concordado com nossa prática carnavalesca que dura o ano todo: o vale tudo sexual contemporâneo. Em 1912 escreveu o seguinte: “... Pode ser facilmente demonstrado que o valor psíquico do impulso erótico (sexual) torna-se mais reduzido na medida da facilidade de sua satisfação. É preciso um obstáculo para incrementar a libido: e onde as resistências naturais à satisfação não foram suficientes, os homens de todos os tempos ergueram barreiras convencionais, a fim de gozar do amor. Isto é exato tanto dos indivíduos como das nações. Nos tempos em que não houve obstáculos à satisfação sexual, como talvez no declínio das antigas civilizações, o amor tornou-se sem valor, a vida vazia, e foi necessário vigorosa reação para restabelecer os indispensáveis valores afetivos... a corrente ascética do cristianismo constituiu valores psíquicos para o amor que a antiguidade pagã jamais conseguiu conferir-lhes”.