PSICOLOGIA E FILOSOFIA

01/11/2013 11:14

                        Com o passar dos séculos, muitos dos mistérios da criação sofreram um up grade e passaram de mistérios a problemas. Não é necessário desfilar, aqui, as formidáveis descobertas já feitas sobre as coisas da natureza. Nenhum aspecto da mente humana foi fácil de investigar. Até bem pouco tempo, se ocuparam dela a Filosofia, a Teologia e a Religião. A Psicologia, como um saber autônomo, é uma ciência recente. Até o fim do Século XIX, a Psicologia podia ser considerada como parte da Filosofia. Só a partir daí pode ser tida como uma ciência independente, mesmo que sem um objeto de estudo muito preciso e não inteiramente seguindo os cânones da Ciência.

 

                        O estudo da mente sempre apresentou um aspecto dualista, ou até ambivalente, tanto que se usa de um modo quase indistinto, refletindo a dualidade corpo-alma, alma ou mente. É possível que se faça uma distinção usando a palavra mente quando se pensa nos aspectos mais carnais do Homem e alma ou espírito quando se pretende referir só ao lado da subjetividade.

 

                        As relações entre a Psicologia e a Filosofia são particularmente notórias. Aliás, a Psicologia, em sua evolução, acabou se apropriando de um tema central da Metafísica tradicional – o da natureza da mente e de suas relações com o corpo. Atualmente, e como atualmente estamos nos referindo ao fim do Século XX e início do Século XXI, e com as maravilhas da tecnologia já dentro dos laboratórios (ressonância magnética, tomografia por emissão de pósitrons, computação de alta velocidade, etc.), já é possível seguir os passos dos pensamentos, das emoções e dos sentimentos, dentro de um cérebro vivo e funcionante. Fundou-se, então, uma nova ciência – a Psicobiologia, que vem se desdobrando em uma série de saberes como a Neurobiologia, a Biologia Molecular que pretendem conhecer a mente a partir do funcionamento da carne, mais especificamente do cérebro.

 

                     Cada Filosofia inspira uma Psicologia. A Filosofia Idealista inspira a Psicologia Mentalista, cujo método é a introspecção; a Filosofia Positivista inspirou a Psicologia Comportamental ou Behaviorista. A Filosofia Materialista, é claro, é a que inspira a Psicobiologia. Para a Psicobiologia, a mente não é uma substância separada e independente como pregou Descartes, mas um conjunto de eventos ou processos que se passam no corpo, mormente no cérebro.

 

                        Apesar de podermos utilizar a introspecção nas pesquisas sobre a mente, o que não se pode fazer nas outras ciências, nenhum aspecto da mente é fácil de estudar. A consciência, porém, é considerada o problema supremo. E, se elucidar a mente é a última fronteira das ciências da vida, a consciência se afigura como o mistério final. Apesar de tantas mentes brilhantes estarem se dedicando ao assunto  nos mais bem montados laboratórios, não se tem idéia de como se forma a mente consciente, a mente conhecedora. O Eu que sente e tem sensações e sentimentos. A nossa subjetividade não pôde ser entendida ainda. Melhor seria dizer que não se tem a mais vaga idéia de como ela pode se constituir a partir da carne, isto é, do tecido cerebral e dos neurônios. A estranheza da consciência humana é tão grande que o físico e matemático Roger Penrose, no seu livro “The Emperors new mind” argumenta, usando toda a sua bagagem de lógica e matemática, que a consciência não pode ser explicada pelos neurônios (que são grandes demais), nem pela teoria computacional da mente, nem pela Teoria da Evolução de Darwin, nem mesma pela Física contemporânea. Precisaríamos desenvolver a Física da Gravidade Quântica para entender os fenômenos quânticos que atuariam nos micro-túbulos que formam o esqueleto dos neurônios. Esses efeitos quânticos são tão estranhos que podem ser equiparados à estranheza da consciência. Isto não significa que, sobre muitos outros aspectos do funcionamento da mente, os nossos conhecimentos deixem de ser formidáveis e nos deixem perplexos e admirados.

 

                        Vamos tomar, agora, o primeiro item, dos nossos temas propostos mais específicos sobre os aspectos agressivos do Homem: a violência e o crime. Atirar à esmo, sobre uma multidão de inocentes, é a quinta essência da irracionalidade. Mas, já estamos acostumados a estas notícias e a mídia nem dá grande repercussão a elas. Nos Estados Unidos, a terras dos doidos por armas, onde os crimes por ataques furiosos são até comuns (só de ataques de fúria feitos por funcionários desgostosos dos Correios americanos foram computados doze em doze anos, tanto que virar postal tornou-se uma gíria americana para perder a cabeça). Entrar num estado deste, porém, não é exclusividade de americanos, de cidadãos ocidentais e nem mesmo de sociedades desenvolvidas ou modernas. Chama-se, também, a este estado de fúria homicida, de estado de amok. Amok é uma palavra malaia que designa as orgias homicidas ocasionalmente empreendidas por homens solitários que sofreram uma perda de amor, de dinheiro, ou da honra. Um homem em estado de amok para o que está à sua volta e é inacessível a apelos e ameaças. Mas o ataque é precedido por longas ruminações e minuciosamente planejado. Não é desencadeado por um tumor nem por um estímulo imediato, nem um desequilíbrio catastrófico de neurotransmissores. É desencadeado por idéias e, portanto, tem a sua fria lógica própria.