VALORES FAMILIARES

10/01/2014 10:43

                        Quando lemos o conto folclórico Cinderela ou Borralheira, isto nos suscita pensar nos valores familiares e na rivalidade entre irmãos. Também em madrastas e padrastos, que adquirem uma importância maior agora, onde muitas famílias são formadas com um casal e três tipos de filhos: os dela, os dele, e os dos dois.

 

                        Nós somos sempre bombardeados por mensagens politicamente corretas que, simplificadamente, dizem: trate as pessoas com a mesma bondade e tolerância com que você trata os seus parentes consangüíneos. Mas, o amor pelos familiares brota naturalmente. Já, o amor pelas demais pessoas, não. Este é um fato fundamental do nosso mundo social. Os antigos diziam: cuidem bem de fulano porque ele tem o nosso sangue. Hoje, nos meios cultos, dizemos: os parentes compartilham genes e quanto mais próximos, mais genes há em comum. Se um gene fizer um organismo beneficiar um parente, tem grande chance de beneficiar uma cópia de si mesmo. Com esta vantagem, os genes que nos fazem amar os parentes aumentaram na população ao longo das gerações.

 

                        Os pais amam sobretudo seus filhos, os primos se gostam, mas não tanto quanto os irmãos. As famílias são importantes em todas as sociedades conhecidas e o seu núcleo é: a mãe e seus filhos biológicos. Em todas as sociedades existe o casamento, cujo objetivo principal é ter filhos. As mulheres encontram-se em posição melhor quando permanecem perto de seus parentes. Os homens é que se deslocam porque elas preferem viver cercadas pelos pais, pelos irmãos e tios que podem vir em seu auxílio nas disputas com o marido, fisicamente mais fortes.

 

                        Hoje em dia, não é politicamente correto associar o amor paterno ao parentesco biológico, porque desmerece numerosos pais com filhos adotivos e enteados. É claro que os casais amam seus filhos adotivos porque estiveram empenhados em compor uma experiência de família natural, senão não teriam feito as adoções. Mas,  as  famílias  com  enteados  são  diferentes.  O  padrasto  ou    madrasta procurou um cônjuge e não um filho. O filho do outro é um custo que veio como uma parte do trato, como um contrapeso.  Padrastos e madrastas têm má reputação em todas as culturas. O dicionário Webster assim define madrasta: aquela que não dedica cuidados ou atenção apropriada. O Aurélio diz, em sua terceira definição: pouco carinhosa, ingrata, má. A caracterização negativa de padrastos e madrastas não é absolutamente exclusiva da cultura ocidental. As histórias apresentam os padrastos em duas situações:  padrastos cruéis e padrastos lascivos. Dos esquimós aos indonésios, padrastos e madrastas são vilões em todas as histórias. Os americanos do norte, é claro, já fizeram estatísticas sobre o amor entre enteados e seus pais adotivos. Em um estudo feito com famílias americanas de classe média, emocionalmente saudáveis,  apenas metade dos padrastos e um quarto das madrastas afirmaram ter sentimentos paternais em relação aos enteados e, uma percentagem ainda menor, alegou amá-los. Os psicólogos Martin Baly e Margo Wilson descobriram, por pesquisas, que ter padrastos ou madrastas é o maior fator de risco para maus tratos às crianças.

 

                        Por um outro lado, padrastos e madrastas, seguramente, não são mais cruéis do que qualquer outra pessoa. A paternidade é que é uma relação única entre todas as relações humanas. Paternidade é uma relação de mão única. Os pais dão e os filhos recebem. Por razões óbvias, evolutivas, as  pessoas estão constituídas para fazer tais sacrifícios pelos filhos mas não por qualquer pessoa. E o pior ainda, é que as crianças têm na sua constituição, elementos para requerer estes sacrifícios de todos os adultos incumbidos de cuidar delas, o que as tornam francamente incomodas para outras pessoas que não seus pais e parentes muito próximos. Um avô disse que adora sê-lo: - Amo meus netos, especialmente quando choram, porque logo vem o pai ou a mãe e os levam embora.” Mas, se você está casado com o pai ou a mãe da criança, ninguém vai levá-lo embora. A indiferença, ou até mesmo o antagonismo de padrastos e madrastas pelos enteados é, nada mais nada menos, que a reação típica de um ser humano a outro ser humano que não lhe é consangüíneo. A infinita paciência e generosidade de um pai biológico é que é especial. Isto não diminui o apreço pelos numerosos padrastos e madrastas benévolas, na verdade até deve aumentá-lo. São pessoas especialmente altruístas e boas para todo o ser humano e o são, logicamente, com seus enteados.

 

                        Um cônjuge é o exemplo mais conhecido de parente fictício. São pessoas não relacionadas geneticamente que são consideradas como parentes e que, também, reivindicam as   emoções normalmente dirigidas somente aos parentes consangüíneos.